O que de Nós Fica
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Que triste o que de nós fica, uma perna de pau, um andarilho,
Uns calções porque morremos no verão e uma t-shirt velha,
Porque foi tudo à pressa e nem tempo tivemos de nos despedirmos,
Quase uma vida enfiada em rodilho num saco de plástico,
Branco como o tecido de papel que nos cobre, tudo uso único,
Pendurado num punho do andarilho, onde apoiávamos o cansaço,
A escultura grotesca do essencial de uma vida,
Que dois homens, tresandando de desodorizante barato,
Vem buscar, e no caminho da patologia, falam dos casos
Novos de Covid, trazidos de São Petersburgo, depois
Do país deles ter sido eliminado, parece impossível que a vida
Continue quando deixámos de ser, mas o mundo realmente,
Nunca precisou de nós, fomos tudo e num momento nada,
O que tocámos continua e por vezes um desconhecido,
Que passou a noite inutilmente a agarrar-nos à vida,
Escreve-nos um poema, como se não fosse também em vão.
Turku
27.06.2021