Visita à Biblioteca de Adriano

 “é terrivelmente difícil amar estátuas em ruínas”

Tatiana Faia 

à Tatiana

 

É difícil compreender o número de catástrofes
Que acumulamos ao longo da vida,
A persistente ruína de carne em que nos tornamos,
Após incontáveis apocalipses pessoais,
Terminam amores tão sólidos como as colunas
De um templo, que um agricultor usou
Para proteger a vinha do ar salgado,
A fé salta de ilusão em ilusão,
Dependendo da crença em moda ou medo,
Com sorte, o nome de uma rua permanece,
Imutável como um nome próprio,
Irreconhecível para quem a baptizou,
Levamos ainda o colapso de todas as civilizações
E isso sente-se na saudade pelo que nunca
Vivemos na carne e sentimos apenas no sangue
O silêncio que o tempo impôs às pedras,
Dura mais um momento que a vontade de eternidade,
A visita numa tarde quente à biblioteca em ruínas,
Que distante revisitarás, no livro da mesma poeta. 

04.12.2022

 

Turku