Dois poemas
/INSTRUÇÕES DE EMBARQUE
Encenar sem cuidado lágrimas falsas, alarmes de crocodilo, mãos espalmadas e patas no precipício (histórias de pescador dormir).
Falar com voz engasgada em nome de, em vão, das coisas enferrujadas, das cartas de gaveta, maracujá-passa, das malas vazias, esteiras cortadas, e do nome sem dono.
Disparar roleta-russa: embargar o nome do poeta ao contrário, em cor etérea, cantar violino no telhado esverdeado ao largo azul da zona desconforto que estoura o silêncio com passagens estreitas sem contorno.
Agarrar as sombras de um navio em Dakar.
Seguir os passos do avião e abraçar sua sombra que aporta no meio do Não.
Empurrar ao rio qualquer sorte de ocaso e cravar no ar frases
sem A, sem Z, sem V, sem T, sem C.
Amarrar no pé da consciência três dias e deixá-los passar fome. Esvaziá-los das coisas sonho bom. Estragar os vinte, apodrecer os trinta e matar os quarenta.
E depois perder (sim, perder)
as contas: prontas
a paciência: sem licença
a cabeça: onde esteja
Mas por favor não,
ouse deixar nada
acompanhado pelo abraço-audácio
que nenhuma mão sabe dar.
PAUSA HEROICA
Comentam as estrelas
das cinzas das borboletas
o gene
e
a
p
o
e
i
r
a