Sinéad Morrissey, Exibição

É um jardim tão esvaziado de tempo que me faz deter, e sou incapaz de prosseguir.
Culpo as folhas: caem pelo céu numa chuva assim selvagem e dourada
Empurram-me para que as veja mergulhadas nas flores, nas tumbas
Que alguém gravou com nomes e datas, fé e dor, como se fossem
bandeiras naufragadas. Não sobram dias que possamos atravessar, todos os seres
E lugares se desvaneceram no fogo da natureza, e persiste apenas por aqui a morte
Do Outono, que ela tão bem sabe executar. A consumada ruína das árvores
Não é verdadeira dor, mas somente o culminar dos ensaios.
Pergunto-me que rosto será o das tumbas
Quando aqui se encontrar o Inverno, e o espectáculo tiver enfim terminado.

  

Sinéad Morrissey, There was a Fire in Vancouver, Carcanet, Manchester, 1996

 

tradução de José Manuel Teixeira da Silva

 

A PERFORMANCE

This garden is so empty of time it holds me still, unable to go on. 
I blame the leaves: they fell from the sky in such a wild, golden rain 
They pulled me in, to see them thigh-deep over flowers and graves 
That had been stamped with names and dates, faith and pain, 
Like flags on sinking ships. No more years to go by, all whos 
And wheres washed out in nature’s fire, the only death here 
Is Autumn’s, and she does it too well. The trees’ bold undoing 
Is no serious grief, but an accomplishment of practice. 
I wonder what faces the graves will have 
When Winter is here, and her show is over.