Comerei o teu ódio como se fosse amor
/Descobri a Miau! numa livraria espanhola em Berlim, a Bartleby and Co. Segunda edição, de Janeiro de 1997. Na contracapa lê-se: Villa 99, Hacienda 2 Mares. La Manga del Mar Menor. 30370 Murcia. Mati, Lidia, Mabel, Cuca, Mª Paz. São elas que na primeira página (chamar-lhe editorial poria a coisa em termos demasiado arranjadinhos para uma zine), escrevem: “Gracias a todos los que nos escribís cosas bonitas sobre Miau! Y a los que no nos quieran, nos comeremos su odio como si fuera amor.” E é a pensar nisto, talvez a temer que alguma parte do nosso corpo seja arrancada e esfiapada quem nem um bacalhau, ou talvez com ar de quem acabou de se render ao sábio conselho – nunca deixes que façam farinha mole contigo –, que passamos para as páginas seguintes. Há uma crítica ao Festival de Bullas, festival de música independente que começou nos anos 90, na região de Múrcia, Espanha, e terminou em 1998, apesar de ter tido uma edição em 2003. Naquele ano (97) o festival recebera os Fangoria, Popstal e Iluminados, bandas que tiveram grande influência na cena indie dos anos 90 em Espanha.
Há um obituário sobre Mathew Fletcher (1970-1996), baterista dos Heavenly (indie pop anos 90), que se suicidara com 25 anos, críticas a álbuns (“Beat Happening”, da banda com o mesmo nome, lançado em 1985 pela K Records), retrospectivas de bandas (June of 44, antigos Rodan, com um álbum que revelaria influências de Slint, Shellac e Fugazi, e uma canção, “June Miller”, que supostamente faria referência ao triângulo formado por Henry Miller, June e Anaïs Nin) e entrevistas (Hood, banda britânica de indie rock, anos 90, e Run On, banda de rock americana da mesma altura).
E há ainda uma crítica a um filme, Half-Cocked, de Michael Galinski, baixista de Sleepyhead, um road movie de culto dos anos 90 sobre um grupo de jovens que decide assaltar uma carrinha e roubar todo o equipamento de música para formar uma banda e fazer-se à estrada.
São 45 páginas de música e outras variedades (de My Blood Valentine à Barbie e da Barbie a Nick Drake, com direito a uma biografia ilustrada da Hello Kitty – “Hello Kitty en Puroland”, “Kitty juega con dos keroppi”), nesta zine criada por seis miúdas com “un corazón riot grrrl”.