ECDISE

1. 

em milagres faria intervenções

transformaria as perdas

em pedras palpáveis e membros fantasmas

em ambiguidades 

e logo cada caminho seria recrutado por determinismos

na época das moscas e aranhas

de observadores são os muros e os matos

de barulhos embrulhados permanece o ar

cada criança corre sua vida 

e se apressa no desmanchar do casulo

em desfazer seu ninho

no deslembrar de seu nicho

mas

os lobos guardam

caminham calmos

os lobos sabem empacotar vontades

2.

montanhas não existem por aqui

os rios cortam mais que lâminas

tu não és peixe nem anfíbio nem réptil

e esse teu coração pulsa nas mãos

pula

teu coração pula 

dele saem regatos por teu pulso

o centro de tudo é consequência

por isso generalizações se formam

3.

os quero-queros não representam anseios

mas insistem

não me representam

não insisto

na pressa os pés

e o leite

choramos a dor e o derramado 

no chão as coisas estão no mesmo plano 

mas existem coisas que não são coisas

assim como aqueles regatos insistem em sair por teu pulso

as horas veiam a presença

e embrulham o dia com jornais antigos

cozinham a existência em etileno

4. 

na minha continuidade as pausas são necessárias

pra remontar céus azuis de dias regulares

pra que o fio da meada não me perca

nas presas achamos pares

principalmente quando elas retiram suas fantasias.