Poesia
/Comemorou-se há pouco o dia da poesia. Sabemos bem que dedicar um dia a isto e outro àquilo é uma convenção muitas vezes próxima do patético, mas fica a substância, que neste caso é a própria poesia, que diariamente, por necessidade vital, é homenageada aqui na Enfermaria.
Ontem encontrei, em puro e santo acaso, um haiku que servirá para abraçar espiritualmente, mas talvez atabalhoadamente, os bons poetas que generosamente aqui colocam os seus poemas, também para meu deleite.
Antes de relançar o achado no mundo, confesso-me um admirador sem reservas da forma haiku, que a partir do qualquer coisa ou fenómeno, por mais insignificante que seja, numa enorme economia discursiva, permite entrar num campo mais abrangente, no "todo" ou no "nada", no limite a mesma coisa. Um haiku age como uma espécie de gota de chuva que cai sobre um ramo, provocando um frisson inicial que é rapidamente superado. Em boa verdade, um haiku não transforma nada, mas aumenta a sensação de se estar no mundo profundamente ancorado na vida. E não será esta a finalidade de toda a poesia?
"Tenho um fio de vida
Parece partir-se a cada instante
Mas persiste"