Nota de leitura (10)
/Apollo
Contemplo teu rosto
como um astronauta
que pisou a lua
e por uma noite
de Agosto, sentado
no umbral da casa
(trinta anos depois
dos únicos, poucos,
verdadeiros dias
da vida que teve)
levanta a cabeça
para olhar o céu
e pensa consigo:
Oh, eu estive lá.
José António Almeida
A Mãe de Todas as Histórias
Lisboa: Averno, 2008, p. 49
A universalidade que aqui tenho vindo a discutir e defender em relação à forma poética (porque uma coisa é a forma poética e outra a Poesia), sei que é frágil e facilmente rebatida. No entanto, volto a ela com o poema acima reproduzido. Para mim é um dos mais belos poemas de amor escritos nos últimos vinte anos. Mas também é certo que não li todos os poemas de amor que se escreveram nos últimos vinte anos.
E será um poema de amor aqui e em qualquer parte deste nosso mundo. O homoerotismo presente só o é devido ao título que o poeta escolheu para o poema. Se retirarmos o título ao poema, temos, sem qualquer sombra de dúvida, um poema de amor. E quando aqui falamos de amor, falamos de Amor. Porque só a falta de Amor é contra-natura. Tudo o resto, que alguns possam vir alegar, é retórica populista e demagógica.