27 de Janeiro
/Dia gelado. Sol frio. Bafos brancos.
Mas nessa Sexta-feira não sabíamos ao certo
o que celebrar, o que lamentar
– porque era ao mesmo tempo
o dia da memória pelas vítimas do Holocausto
e o solene aniversário de Mozart.
A nossa memória não sabia o que fazer.
A nossa imaginação estava perdida.
A vela no parapeito chorava
(pediram-nos que acendêssemos velas),
mas das colunas chegava a música tranquila
do primeiro Mozart, Rococó,
época de perucas de prata, e não dos cabelos cinzentos
que conhecíamos de Auschwitz,
época de trajes, e não de nudez,
de esperança, não de desespero.
A nossa memória não sabia o que fazer,
a imaginação perdia-se em especulações.