Charles Bukowski, «Oh sim», «A genialidade da multidão»
/Tradução de João Coles
Oh sim
há coisas piores do que
estar sozinho
mas normalmente levamos décadas
a darmo-nos conta disso
e na maioria das vezes
quando nos damos conta
é tarde de mais
e não há nada pior
do que
tarde de mais.
De Love is a Dog From Hell
Oh yes
there are worse things than
being alone
but it often takes decades
to realize this
and most often
when you do
it's too late
and there's nothing worse
than
too late.
A genialidade da multidão
há perfídia, ódio, violência e absurdidade suficientes no ser humano
médio para fornecer qualquer exército em qualquer dia
e os melhores em assassinatos são os que lhe pregam contra
e os melhores no ódio são os que pregam o amor
e os melhores na guerra finalmente são os que pregam a paz
aqueles que pregam deus precisam de deus
aqueles que pregam pela paz não têm paz
aqueles que pregam pela paz não têm amor
cuidado com os pregadores
cuidado com os sabichões
cuidado com aqueles que estão sempre a ler livros
cuidado com aqueles que ou detestam a pobreza
ou têm orgulho nela
cuidado com aqueles de fáceis louvores
pois precisam do louvor de volta
cuidado com aqueles de rápida censura
têm medo daquilo que desconhecem
cuidado com aqueles que procuram sempre a multidão
não são nada sozinhos
cuidado com o homem banal, com a mulher banal
cuidado com o seu amor, o seu amor é banal
procura a banalidade
mas há genialidade no seu ódio
há genialidade suficiente no seu ódio para te matar
para matar qualquer pessoa
não querendo a solidão
não entendendo a solidão
eles tentarão destruir qualquer coisa
que seja diferente da sua
não sendo capaz de criar arte
eles não entenderão a arte
vão encarar o seu fracasso enquanto criadores
como um mero fracasso do mundo
não sendo capazes de amar plenamente
vão julgar o teu amor incompleto
e depois odiar-te-ão
e depois o seu ódio será perfeito
como um diamante reluzente
como uma faca
como uma montanha
como um tigre
como cicuta
a sua mais refinada arte
De The Roominghouse Madrigals: Early Selected Poems 1946-1966
The Genius of the Crowd
there is enough treachery, hatred violence absurdity in the average
human being to supply any given army on any given day
and the best at murder are those who preach against it
and the best at hate are those who preach love
and the best at war finally are those who preach peace
those who preach god, need god
those who preach peace do not have peace
those who preach peace do not have love
beware the preachers
beware the knowers
beware those who are always reading books
beware those who either detest poverty
or are proud of it
beware those quick to praise
for they need praise in return
beware those who are quick to censor
they are afraid of what they do not know
beware those who seek constant crowds for
they are nothing alone
beware the average man the average woman
beware their love, their love is average
seeks average
but there is genius in their hatred
there is enough genius in their hatred to kill you
to kill anybody
not wanting solitude
not understanding solitude
they will attempt to destroy anything
that differs from their own
not being able to create art
they will not understand art
they will consider their failure as creators
only as a failure of the world
not being able to love fully
they will believe your love incomplete
and then they will hate you
and their hatred will be perfect
like a shining diamond
like a knife
like a mountain
like a tiger
like hemlock
their finest art