Sala De Espera
/Quando é que os dias se tornaram numa sala de espera bafienta, escura,
Com mobília dos anos 70, onde zumbe já faminto o caruncho dos ossos,
Esperando que a porta se lhes abra e seja chamado o nome
À consulta kármica, para se receber um frasquinho com meia dúzia de dias felizes,
Depois deste volte cá e espere, a porta da rua está sempre aberta,
E lá fora ninguém, nada, a saída definitiva para um dia infinito e vazio,
Quando é que todas as revistas se tornaram sobre vidas desinteressantes,
Como espelhos ou então exemplos de todos os fracassos que se acumularam
Em nome de te tornares no que hoje és, algo afundado num sofá
Com as mãos sobre os joelhos, procurando encontrar em que linha te despistaste,
Como quem perdido num dia de chuva, procura encontrar o caminho
De volta, com um mapa ao contrário de uma outra cidade,
Quando é que surgiu esta vontade de saltar por cima de bocados enormes de vida,
Estações inteiras, companhias decentes, a fruta quase toda para o lixo
Na esperança de uma gota destilada de um Sol que se sinta tocar
Algo que enterramos há muito, bem fundo, só porque não se sabia, como nada se sabe
E por cima de toda a ignorância, erguemos este castelo de certezas e esperamos.
Turku