Metades de uma laranja

I
quando Maria se perdeu 
no deserto 
não sei se seriam
cálices ou ondas
que lhe desciam pelos
seios enviuvados 

II
o tumor da tempestade
arrastou o túmulo da tua cria
levando consigo o calor sombrio
dos rebanhos em negação

III
escreveram nas paredes 
que os pombos tombaram 

IV
o teu filho morreu 
e no fundo dos montes
ouvem-se os gritos das mulheres
ecoando nas bocas dos peixes 

V
esses olhos nunca mais voltarão a cair  
aos seus pés
como mantos pousados aos ombros
das montanhas 

VI
ventre da manhã
os tambores já não tocam 
nesta cidade