Regurgitações Revisitadas 

O verão arrefeceu, a máquina parou, os marmelos, 

Já devem estar maduros, não tardam os vidros embaciados, 

Na cozinha, com a lareira a prometer incêndios caseiros, 

Como no verão do rei leão e os mexilhões do rio, 

Levados quase à extinção, porque a família toda, 

Agora o rio uma amostra de quando se vivia de verdade, 

Como revisitar um álbum de fotografias molhado, 

Umas quantas horas para fingir que ainda se é feliz, 

Uma mão cheia de mexilhões, quanto muito, 

Uma loirinha finlandesa a tomar conta de um vazio 

Demasiado grande para quem quer que seja, 

O verão frio, as andorinhas umas putas que se põem 

A milhas logo que as manhãs não lhe nascem douradas, 

A máquina aqui, a máquina tão longe, espera, 

Não esperes beber o copo que lançaste na terra, 

Nem reacendas o fósforo numa noite apagada, 

Nos primos mais jovens, já a última inocência, 

Viver é uma extinção imensa e singular, 

Na varanda a estas horas só cresce o pó frio das folhas mortas, 

Que esperas de janela aberta quando o Outono regressa, 

Além do cinzento que te pinta os ossos da cor da alma, 

E os meus dentes não trincarão a marmelada deste ano, 

Nem sei se as uvas estão boas, os pés lembram-se, 

O ano acaba logo no fim de Agosto, quando não há mosto 

No ar de Setembro, a aguardente mora ao lado do sono da infância, 

Não há verso que sirva, quando as fotos se descolam do álbum. 

 

18.09.2018 

 

Turku