Um poema de Kelly Grovier

  Tradução: Vítor Teves

 Velas enterradas

                   para Sean Scully

 

Algures, um menino encontra-se no fusco
de uma igreja vazia, no ar pesado
respirações de cera e fumo,
 
estica a mão ao longo do comprimento de desbaste
de uma vela do altar, rouba-a,
e sete outras ao lado. Em casa,
 
ele embrulha o seu roubo como peixe
em papel de jornal, enterra-o no jardim do pai.
Quando o padre chegar
 
para perguntar-lhe se tem alguma coisa pertencente a Deus,
ele escuta o eco mudo dos ossos
acendendo a terra. Agora, cada pincelada
 
é uma exumação, uma anatomia do fogo
um sussurro brutal com as invisíveis
congregações da alma.

de: Kelly Grovier


Buried Candles

                    for Sean Scully

 

Somewhere, a boy finds himself in the fust
of an empty church, in the stale
respirations of beeswax and smoke,
 
runs his hand along the thinning length
of an altar candle, steals it,
and seven others beside. Home,
 
he wraps his haul like fish
in newsprint, buries it in his father's garden.
When the priest arrives,
 
to ask if the boy has anything belonging to God,
he listens for the mute echo of bones
igniting the earth. Now, every brushstroke
 
is an exhumation, an anatomy of fire—
brutal whisper with the invisible
congregations of the soul.

de: Kelly Grovier

Sean Scully - White Window, 1988. Tate.jpg

Sean Scully - “White Window”, 1988.