"Voltar a casa" de Paul Celan
/Tradução: J. Carlos Teixeira
Voltar a casa
Queda de neve, cada vez mais densa,
em tons de pombo, como ontem,
queda de neve, como se ainda agora estivesses dormindo.
Lá no fundo, branco ao montes.
Acima dele, eterno,
a pista de trenó dos perdidos.
Por baixo, escondido,
erguem-se ao alto
o que tão aos olhos magoa,
colinas e colinas,
invisíveis.
Em cada uma delas,
trazidas para casa no seu hoje,
um Eu escorregando no silêncio:
de madeira, uma estaca.
Ali: um sentimento,
chega no sopro do vento gelado,
que amarra a cor de pomba e de neve
ao pano da bandeira.
In Sprachgitter (1959)
Heimkehr
Schneefall, dichter und dichter,
taubenfarben, wie gestern,
Schneefall, als schliefst du auch jetzt noch.
Weithin, gelagertes Weiß.
Drüberhin, endlos,
die Schlittenspur des Verlornen.
Darunter, geborgen,
stülpt sich empor,
was den Augen so weh tut,
Hügel um Hügel,
unsichtbar.
Auf jedem,
heimgeholt in sein Heute,
ein ins Stumme entglittenes Ich:
hölzern, ein Pflock.
Dort: ein Gefühl,
vom Eiswind herübergeweht,
das sein tauben-, sein schnee-
farbenes Fahnentuch festmacht.
In Sprachgitter (1959)