Cisne
/“I keep on fighting against God
In such a dirty, cruel place”
Björk
Se houvesse cetim suficiente,
que me cobrisse a cintura larga, eu
seria um conjunto de penas brancas
esvoaçando num lago gelado da Islândia.
Porventura teria cantado, depois de subir
as escadarias vermelhas ou, simplesmente, depois
de ser condenada à morte.
Preferia, sim, correr e cantar em cima de
um comboio em movimento
a ter de contar as desaventuras da minha,
inexistente, vida sexual. Estão a ver o pantanal?
Isso, mas sem nenhum animal,
sem onça ou bico longo.
Pobre de mim? Não. Quero que se fodam
os Homens, que me desejam, e as mulheres,
que me evitam. Quero, sim,
a liberdade!
Acima de tudo, poder cantar com aquilo
que me caiu em sorte e
não pensar muito. Deixo
o pensamento para
os que têm, realmente, tempo.
Se o cisne, enrolado no meu pescoço,
cantasse a minha morte, eu
jamais seria este corpo.
Neste cetim branco, ele canta
a minha invisível garganta.
Leda e o Cisne, Pompeia.