Improbabilidade de Celia Cruz 

 

Em África decidi que não te podia amar mais, enquanto emborcava Tuskers 
E lia sobre uma guerra colonial tão estrangeira para mim, como o amor, 
Seguindo por cima do livro os passos lentos da turista alemã, 
Em direção ao chuveiro, atravessando um ar espesso como o cantar 
Quente dos grilos, enquanto escrevinhava dentro daquele Toyota Hiace, 
A contagem decrescente dos dólares e dos xelins, aquela pulseira 
Acabou por se partir noutras violências consentidas, permanece espalhada 
Numa gaveta do meu quarto de adolescente, à espera de um elástico, 
Na companhia das cartas de amor que me escrevias, mi riño, la vida es un carnaval, 
Aqueles montes, dizia-te, parecem uns para os lados de Fornos de Ledra, 
Encontro sempre algo de familiar nos montes, mesmo que estejam pintados 
Com outros verdes, o Sol é o mesmo e o amor esgota-se sempre, 
E tinhas razão logo desde o início, no hay que llorar, que la vida es un carnaval
Y las penas se van cantando, mas eu sempre fui fiel ao silêncio das palavras.  

06.11.2020 

 

Turku