No Cemitério de Vila Formosa

No Cemitério de Vila Formosa a terra é cor de tijolo, os mosquitos são famintos

Mesmo com trinta graus e o Sol é húmido de inferno e cólera,

Demorei trinta anos a visitar-te e agora vejo este monte de terra quente,

Com um cata-vento vermelho e verde, que roda às vezes,

Mesmo sem vento e tu sorris de uma foto pequeníssima,

E comove-me a forma como a tia arranca uma erva daninha,

Com o mesmo cuidado de quem tira um cabelo solto da cara de alguém,

Rega as plantas porque não te pode dar um abraço,

A morte dói só aos vivos quando o amor permanece,

Apesar da humidade do ar, aquele calor é doloroso como metal,

A minha prima soluça, não consigo deixar de olhar para aquela terra estranha,

Onde passarás o resto dos dias que já não te restam,

Custa-me esta distância, o pouco que me ficou de ti, um gelado esmeralda,

Um carrinho de brincar, o sorriso que parecia dizer que tudo está bem,

Segurando uma g3 numa foto da tropa, um monte de terra vermelha,

Entre milhão e meio, no mato rodeado por uma floresta cinzenta,

Contudo, o Cemitério de Vila Formosa, não será a tua última morada,

Essa será naquele ente último a lembrar-te ou este poema.

Turku

20.03.2020