D.J. Enright, "Dizendo não"

tradução de José Pedro Moreira

Dizendo não

Depois de tantas (em tantos lugares) palavras
Chegou-se a esta, Não.
Épocas de periquitos, pavões, aves paradisíacas –
Então uma coruja careca grasnou, Não.

E agora (neste lugar, uma vez) para celebrar,
Um som servirá,
Depois da conversa entretecida com amor sobre arte, amor e destino –
Apenas, Não.

Alguma virtude aqui, neste inane estupefacto com o discurso,
Para manter as coisas breves.
Apesar, de quão enfadonha, inchada e distendida a dor –
Dizer tão só, Não.

Virtude (ou apenas decência) teria sido,
Mas – não.
Eu envolvo aquela cabeça da morte, tudo demasiado simples, demasiado claro,
Com longas e bonitas ligaduras dizendo,

Não.


Saying no

After so many (in so many places) words,
It came to this one, No.
Epochs of parakeets, of peacocks, of paradisiac birds –
Then one bald owl croaked, No.

And now (in this one place, one time) to celebrate,
One sound will serve,
After the love-laced talk of art, philosophy and fate –
Just, No.

Some virtue here, in this speech-stupefied inane,
To keep it short.
However, cumbrous, puffed and stretched the pain –
To say no more than, No.

Virtue (or only decency) it would have been,
But – no.
I dress that death’s head, all too plain, too clean,
With lots of pretty lengths of saying,

No.