Haikus Malteses
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Na figueira maltesa
um pisco canta
o fim do verão.
Rapidamente se esquece
o que milénios de pó
escondem.
À beira do mar
todos os amores
a espuma das ondas.
A caminho de África
três patos descansam
ao lado dos turistas.
Cabem nas pupilas
as falésias gigantes
o mar possível.
Longe destes olhos
que fechados
tocam o infinito.
O mar nada revela
ondula um momento –
eternidade para a carne.
Prende-se o mar
com as mesmas amarras
que o amor.
Onda contra a onda
que regressa –
uma mosca observa.
Num copo de Chardonnay
põe-se
o Sol.
O olhar de Calypso
na praia –
o verão parte.
Sobre a merda das pombas
pousa graciosamente
uma borboleta.
Vinda do mar
a tempestade –
aves silenciosas.
Sobre o fresco cagalhão
ejacular –
manhã de Novembro.
No caranguejo morto
a sombra
de um pequeno peixe.
Caranguejo morto
ao sol
perde o verde.
Pequeno camarão transparente
lutando pela vida
como um elefante.
As ondas brilham
ao sol –
mais um barco passou.
São alimento
a morte e o sol –
consumindo vida a vida.
Puxa a linha
o pescador –
outros regressam.
O sol e o mar
nas salinas abandonadas
continuam o trabalho.
Por trás
do farol apagado
põe-se o Sol
Malta, Novembro 2022