Caminhar

 

Caminhar numa ilusão de pálpebras,

Inertes a estremecimentos de cada passo

Batido no silêncio acolhedor do Inverno,

Tudo parece ter a distância do último dióspiro

Na árvore, a importância do arrependimento,

Os dentes escondem sorrisos tenebrosos

E sonhos que inquietam até a coagulação

Do sangue mais viscoso, os corvos esperam

O passar das eras, o esquecimento

De todas as civilizações, estar aqui,

Nunca permanentemente, permeável

A todas as tentações, punhos fechados

Nuns bolsos solitários, a caminho apenas,

Esperando o regresso como a certeza

De todas as primaveras, esmagar segundos,

Como quem pisa cristais de neve

Num sufoco que ninguém lembrará,

Seremos apenas a ausência da água,

Uma sede que terminou, um olhar

Que se encontrará apenas nas palavras,

Até que a última seja esquecida.

 

13/01/2024

Turku