Jo Shapcott, A Minha Vida Dorme
/Tradução de Hugo Pinto Santos
Todo o som é excessivo: o restolho dos lençóis,
o clamor de cabelos emaranhados, o tinido dos dentes.
Ínfimos traços de suor fixam residência em cada ruga
Do corpo, mas a respiração é regular, ela está quente,
e o quarto, tão seguro como o pode ser um quarto em Londres.
O metro atroa, a escassa profundidade,
e os aviões, em direcção a Heathrow, circulam no telhado.
A cada dia, o corpo parece-te, no ar que exala,
cada vez mais fedorento; ela está mais simpática, mais elástica.
Dobra-te mais perto e apanha as iguarias do sono,
ouve a pulsação da pele, prova a mandrágora
do suor nocturno. Inclina-te e poisa o dedo
no lugar que tu achas que é o sonho.
Jo Shapcott, My Life Asleep, Oxford University Press, 1999
My Life Asleep
Everything is loud: the rasp of bed-sheets,
clamour of hair-tangles, clink of teeth.
Small sweat takes up residence in each crease
of the body, but breathing's even, herself warm,
room safe as a London room can be.
The tube rumbles only metres underneath
and planes for Heathrow circle on the roof.
You'll find the body and all the air it exhales
smellier than by day; she's kinder, more supple.
Bend close to catch the delicacies of sleep,
to hear skin tick, to taste the mandragora
of night sweat. Lean forward and put a finger
on the spot you think the dream is.