Santori No Aeroporto
/Bebi duas cervejas em menos de vinte minutos, em jejum, espero o embarque,
Bebi porque estava atormentado pela carne e pela possibilidade, sempre,
De festins nas casas de banho, afogado em olhares, lembro-me de Céline,
E espero, tento escrever algo, mas a caneta também não tem coragem, falta
a tinta,
Escoa-se com os anos, dizem que ainda têm que limpar o avião, vinha de
Hong Kong,
A violência dos beijos russos ao lado, a promessa de garotos na lata
de sardinhas civilizadas,
Céline, que sossego deve ser a morte, sem os sorrisos estúpidos de quem está
só,
E pede caralho, cu, ou cona, sem o bafo pestilento de quem insiste em
gorgolejar
Um idioma frio, sem fome e sem vontade, tornaste-te num mestre zen e essa
sim,
Foi uma viagem, era capaz de morder alguém, dar-me corpo e mais olhos,
mas não,
Levanto-me fodido com a caneta, ela o mundo todo, vou à casa de banho,
Retraio o prepúcio ao máximo e mijo, mijo contra um pedaço de merda
agarrado
À sanita, mijo contra o mundo, até a sanita ficar limpa, por fim, algo imaculado.
Helsinki