Sinéad Morrissey, Baltimore
/tradução de José Manuel Teixeira da Silva
Noutros barulhos, ouço os meus filhos a chorar –
em crianças mais velhas que brincam na rua
fora de horas, nessas vozes que vêm
em luzes incertas; ou no bebé
aqui mesmo ao lado, através de paredes frágeis,
sem sono e rabugento; ou no sempre tão
estranho asfalto de Westside Baltimore
em The Wire, nas sirenes e súbitos tiroteios,
nos guardas cercados e a insultar garotos
que não têm mais de seis anos e apoiam
dealers pelas esquinas, na sua bazófia,
nas inflamadas palavras; ou então nos espaços em branco
entre as estações de rádio, quando nenhuma voz
nos chega e o crepitar eléctrico
talvez abafe o surdo apelo
de uma criança; até no próprio silêncio,
se densamente retém e abraça
o fantasma de um grito que imaginei, mas senti,
e que me surpreende ao subir as escadas, suspenso
no hall, ouvindo-o, distintamente o ouvindo,
quando muito uma ritmada respiração,
mas quase sempre um nada de nada, aragem
do patamar cheia de coisas perdidas,
legendas de pó, estendais com cobertores, um barco
no Lough através da janela, um sono de criança.
Sinéad Morrissey (Irlanda, 1972), Parallax, Carcanet, Manchester, 2013
BALTIMORE
In other noises, I hear my children crying -
in older children playing on the street
past bedtime, their voices buoyant
in the staggered light; or in the baby
next door, wakeful and petulant
through too‐thin walls; or in the constant
freakish pitch of Westside Baltimore
on The Wire, its sirens and rapid gunfire,
its beleaguered cops haranguing kids
as young as six for propping up
the dealers on the corners, their swagger
and spitfire speech; or in the white space
between radio stations when no voice
comes at all and the crackling static
might be swallowing whole a child's
small call for help; even in silence itself,
its material loops and folds enveloping
a ghost cry, one I've made up, but heard,
that has me climbing the stairs, pausing
in the hall, listening, listening hard,
to - at most - rhythmical breathing
but more often than not to nothing, the air
of the landing thick with something missed,
dust motes, the overhang of blankets, a ship
on the Lough through the window, infant sleep.