A Hora Mais Escura
/“Te visitan em la hora más oscura todos tus amores perdidos.”
Roberto Bolaño
É nesta época de máscaras, fogueiras e cemitérios, da despedida definitiva
Ao que do verão restou, que todos os amores perdidos, todos de uma vez,
Visitam o silêncio amargo que se instala na letargia da alma arrefecida
Pela longa escuridão dos dias, todos de uma vez, confundindo-se
Numa massa incorpórea de carne, nomes, vozes e promessas,
A cor dos olhos de um com as curvas e ausências de outros, todos aqueles
Cheiros nestas mesmas mãos vazias, gostava de ter lido Bolaño no Outono
Da minha juventude, teria se calhar tocado menos e agarrado mais,
Evitaria coleccionar tanta ruína, nomes no vazio, pedras nos bolsos,
Ou não, quem me visitaria agora, se não esta gloriosa ausência,
Aconchegante como uma lareira onde arde a última lenha numa noite de apagão.
Turku
03.11.2019