Fallout

Não é de ti que tenho saudades, mas das ruas escuras das aldeias
Quase desertas e do cheiro a cona nas casas abandonadas,
Os dedos fatigados pela cerveja empurrada na solidão dos tascos,
A entrar na inocência sem lhe tocar, porque está tudo perdido
Antes da evidência das portas dos carros a trancar verdades submissas,
Têm passado anos sobre mim e só tenho ganho o cansaço
Que cada nome me planta nas têmporas geadas pelas manhãs perdidas,
Que segredos te poderia contar, se não fôssemos só carne e fome,
E sonhos contrariados de joelhos, hóstias e penitência,
A primavera é o cheiro que fica no mento imberbe e sedento,
Quando os joelhos se juntam em direcção a um tecto quase ruína,
Não é de ti que tenho saudades, mas das palmas abertas
Revelando ao luar o caminho até ao oblívio azedo dos dias quentes,
O pecado emprestado à festa da terra, o granito que rasga melhor
Que qualquer beijo, com ou sem vontade, a pele que cede, sempre.

Turku

08/04/2019