Dois poema de "Um dia serei humano" de João Vilhena

no fundo da lata busco o prazo
dois do três de dois mil e quatro
tu entras e sais do televisor
como uma notícia vista
em todos os canais
e ris-te da minha precisão
que diferença faz
um dia a menos um dia a mais

na taça já pouco resta da fruta enlatada
no sofá o teu corpo quase morto
é o eco da imagem retida na foto

é difícil tirar os mortos dos vivos
as sombras não têm prazo
nelas está o arrepio dos astros


O dia revelou-se pouco a pouco
sem nunca se mostrar inteiramente
Esticas os lençóis a noite
é uma memória que a tua mão alisa
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Nada se abre a estas horas nem eu nem tu
nem a padaria do lado ser a peça inútil
que resta dum armário montado à pressa
ou dum jogo abandonado de criança
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Isto vem tudo melhor e claramente explicado
numa página exata quem sabe a 44
de um livro talvez por mim em tempos lido