Elizabeth Garrett, Comutação

Tradução de Hugo Pinto Santos

Nessa altura, eu era mergulhadora:
em cada membro, o tumulto
e o impulso de um poema — nem o céu
me podia deter. O fresco
no rosto a arder, o ar
sobrecarregado de mistério,
cindido à minha passagem.
A graça, como dor mitigada,
pecado perdoado, chamava
este anjo obscuro até à sua sombra.
Nada há que a mente calcule
e o coração não possa desfazer:
vê — a prodigiosa janela
da água mantém-se intacta.

Elizabeth GarrettA Two Part Invention, Bloodaxe Books, 1999

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Elizabeth Garrett, «Canção»

tradução de Hugo Pinto Santos

Já outros assim jazeram antes de nós —
lado a lado dormidos, brandura a brandura,
osso com osso — e sonharam que, nem pasto,
nem pedra, cresciam onde carne e figura assim se fundem.

Sob a ampulheta do céu, estendem-se os amantes,
Detritos contínuos, vogando fora do alcance do mundo,
juntos jazem, indiferentes ao contacto do sol,
aos grãos do tempo cuja lenta filtragem sob eles se dá.

Já outros assim jazeram antes de nós — 
lado a lado dormidos, cinzas a cinzas,
pó contra pó — e ainda sonham enquanto, infatigável,
a chuva enxuga as suas pedras; entre eles, apenas pasto.

Elizabeth Garrett, A Two Part Invention, Bloodaxe Books, 1999

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