No Amanhecer de Junho
Cedo no amanhecer de Junho ele remou,
bem vestido, estrangulado por uma gravata, calças arregaçadas,
sobre a calma baía, voltando-se, olha para trás;
lá estava a ilha, lá dormiam sua mulher e criança,
árvores, lá repousavam os ventos,
a primeira brisa da manhã veio e quebrou
o espelho da água.
Canções simples
Canções simples, claras como a manhã –
quantas vidas e pensamentos afundaram
para que estes pudesses ascender,
erva, flores, dias, passagens.
A erva silenciosa
O coração não concorda com os seus limites,
nem o poema com a realidade,
nem a realidade com o sonho de Deus.
Que tipo de diálogo é o que te transforma
mesmo que não te altere?
Não procures na erva silenciosa,
procura a erva silenciosa.
Padrão quebrado
Onde estiveste, tu que bem conheci?
— Na escuridão,
vaga, enlouquecida.
Lá vai um que se transformará
e como cães
os ventos correm pelos seus membros.
Tu és como ele. De ti nada posso
esperar
além do sofrimento que é felicidade consumida
e na escuridão extrema
felicidade que é sofrimento consumido
quebrando o padrão.
Manhã, noite
Fresca repousa a erva,
é manhã, noite
na tua vida.
Perto dos teus caminhos
vai-se o último dia
escondido talvez na folhagem das arvores
ou em cidades silenciosas
onde o teu choro não se ouve.
De manhã cedo
De manhã cedo a primeira erva,
caminhos silenciosos, amplas quintas e lameiros,
sombras familiares, pedaços de luz
e nós essa quietude, a persistência da mente.
Bo Carpelan, nasceu em 1926 em Helsínquia, foi um poeta e autor finlandês de língua sueca.
Vencedor do Nordiska Pris da Academia Sueca em 1997, foi a primeira pessoa a vencer duas vezes o Finlandia-palkinto (1993 e 2005), venceu também o European Prize for Literature em 2006.
Vítima de cancro em 2011, morreu em Espoo, sendo depois sepultado em Helsínquia.