O homem não sabe como ali chegou. Os autocarros não seguem aquele percurso e ele não parece sequer caminhar, mas antes flutuar com esforço, como se a gravidade surgisse intermitente só para transtornar a passagem pela terra que na lhanura se repete impávida. Abriu-se uma cratera e o homem não sabe onde, apenas pressente o seu abraço sugador. Ou foi no meio da pradaria sobre a qual ele levita por não conseguir andar e arrasta-se por não poder flutuar, ou então foi dentro dele mesmo, no peito, no cérebro ou em plenos pulmões. É um oco que se expande, carcomendo lentamente as próprias bordas de imaterialismo até atingir uma matéria orgânica indefinível no cerne da pradaria ou no próprio corpo do homem, o qual se confunde com o corpus desarvorado diante de si que, transposto, apenas dá para uma extensão dele mesmo. O homem, com uma força a cingi-lo gradualmente, está cada vez mais pesado e, à vez, vazado, inspirando o vácuo entre duas partículas de ar e expirando os resíduos que são substância bastante. De cada vez que inspira, algo dentro de si faz-se mais leve, deferível, e de cada vez que expira, projecta o vácuo e segue na corda bamba sobre o que se desfaz. A pradaria, ou será antes o corpo humano, torna-se nada, campina sem órgãos, e o homem tenta entender se chegou ao fim após tantas digressões que sempre pareceram, desde a juventude, não ter ponto de partida nem de chegada, em que bastou passar de um itinerário mental para outro sem transpor cercas. Se por fim as suas levitações e arrastamentos de uma ponta a outra da capacidade locomotora mental, em que mal se chega a pisar o chão, desembocam agora onde será preciso caminhar a direito. E transpor alguma cerca. Tenta inspirar só para ganhar alento. Os pulmões, por enquanto, estão cheios, as suas tubagens desimpedidas o bastante para respirar o ar puro das pradarias, para calcar com serenidade à chegada a erva cada vez mais rala, os vazios cada vez maiores entre os caules.